sábado, 8 de outubro de 2011

Os novos problemas da nova "Malhação" por André Luiz Batista



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A Globo estreou há aproximadamente um mês mais uma temporada de "Malhação", titulada em seu início como "Malhação Conectados", de Ingrid Zavarezzi.

Trama jovem, de baixo custo, celeiro de talentos e que impulsiona a faixa de novelas da emissora carioca nunca exigiu grandes esforços de seus diretores e autores. Apesar de como qualquer produção ter tido problemas, todos eles se mostraram solucionáveis ao longo de quase 20 anos. Entretanto, esta nova fase criou problemas e riscos desnecessários à Globo.

A nova temporada de "Malhação" estreou querendo inovar. Vários ingredientes inéditos foram acrescentados criando o que classifiquei de riscos os quais não precisavam ter sido corridos, ainda mais comparando com a temporada passada. A fase escrita por Emanuel Jacobina tinha vilões e protagonistas bem marcados, uma história dinâmica, cenários bem montados (como a nova escola do Primeira Opção, cenário o qual eu havia criticado na temporada 2010 por ser fora de moda e que foi totalmente reformulado), uma fotografia colorida e se desenvolveu muito bem em um ano no ar. Emanuel Jacobina não inventou os vilões e mocinhos muito menos a estrutura de se fazer novela, mas soube conduzir bem e reforçar uma estrutura de história que se vende desde o início da dramaturgia nacional. Ingrid, por sua vez, arriscou.

"Malhação", agora, "conectada", desandou o projeto antigo e perdeu índices no Ibope. A temporada anterior, que havia chegado a 26 pontos de média em seu último capítulo, cedeu espaço para uma que chegou a dar 14 recentemente. E não é difícil de ver os erros desta nova fase.

Ingrid, ao montar o roteiro da nova "Malhação", extinguiu o principal cenário da novela: a escola. O ambiente escolar foi totalmente abolido. Agora há uma faculdade, que está longe de ter a importância que a escola tinha no desenvolvimento das histórias anteriores. O erro? O telespectador jovem, parte do público de "Malhação", se afasta por deixar de se identificar. O colégio onde tudo acontece, dos bons professores, do clima alegre, das intrigas e romances, deixou de existir. Um importante ponto contra.

Ao mesmo tempo, a nova temporada criou um núcleo na favela. Embora não esteja apostando em tiros, violência ou em drogas e tenha optado por uma linha mais agradável, Ingrid também não teve muito êxito neste núcleo. Novamente, o jovem não se sente atraído por um ambiente desses. Ele não se identifica. Diferente do colégio, do Gigabyte ou do clube, que ele queria frequentar, jovem algum tem o interesse no cotidiano de uma favela. Não estou abordando questões como preconceito mas sim pensando na forma subjetiva. Basta ver os produtos que têm aceitação dos jovens no momento, como as séries da Disney ou "Rebelde", na Record, se alguma delas deixa de criar um mundo imaginário para se adequar a uma realidade que o telespectador quer deixar de lado quando assiste TV...

Outro problema em "Malhação" está na estrutura dos personagens. Ainda não há uma disputa e muito menos armações. Sequer há o triângulo amoroso entre mocinhos e vilã/vilão. Os protagonistas estão juntos desde o segundo ou terceiro capítulo e nada abala a relação deles. E aprofundando a questão dos protagonistas, Gabriel (Caio Paduan) é outro que tem uma série de mistérios que não atraem e não despertam curiosidade. Mesmo com seus dramas sempre acentuados por uma trilha misteriosa e de suspense, vê-lo desmaiando, sangrando ou passando mal, o que é sempre relacionado ao tal número 1046, já deixou de ser interessante há muito tempo.

A história dessa nova temporada, por si só, é misteriosa demais para a faixa em que é exibida. Os problemas do protagonista, o tal 1046, um garoto que não sabe se morreu ou se está vivo e uma mãe que chorou sua morte há tempos... Existe uma densidade desnecessária e que o telespectador vem rejeitando até então.

A direção, por sua vez, faz um bom trabalho como a maioria dos diretores da Globo. O núcleo de José Alvarenga, de "Força Tarefa", é bastante adequado à trama que passou a explorar a favela e tramas misteriosas. O tom sombrio e escuro da fotografia também convergem com o que é apresentado. Ou seja, a produção é pertinente e bem acabada. O problema, infelizmente, recai na história.

De toda forma, acredito que Emanuel Jacobina e Ricardo Waddington não tiveram seus méritos reconhecidos pela imprensa em geral - ou até mesmo pela Globo. Meses antes do folhetim acabar, o que se sabia era que a emissora desejava reformular totalmente a novela (como se houvesse tal necessidade), que uma novidade era bastante necessária (o que em partes é verdade), que não iria sobrar nada da temporada vigente (o que realmente vimos que era uma verdade).

Qual motivo disso tudo, sendo que Emanuel soube desempenhar muito bem o seu trabalho? Qual motivo da pressa em terminar a produção implantada por Ricardo Waddington e dirigida por Leonardo Nogueira?

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